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A Montanha dos Sete Abutres e o público cúmplice da tragédia

Clássico de 1951 mostra como o consumo da dor alheia antecipa o comportamento digital atual e levanta dilemas sobre ética coletiva.

Foto do autor do artigo.
Crédito da foto principal: Arquivo pessoal

Escrito por Victor Hugo Cavalcante, editor e jornalista do site Jornal Folk.

Lançado em 1951, A Montanha dos Sete Abutres continua sendo um dos retratos mais cortantes da relação entre mídia, tragédia e público.

Dirigido por Billy Wilder, o filme expõe como o jornalista Chuck Tatum manipula um acidente para prolongar seu tempo nos holofotes — mas também evidencia outro aspecto que ecoa fortemente em 2025: a responsabilidade coletiva do público.

No enredo, milhares de pessoas se aglomeram no deserto do Novo México para acompanhar o drama de um homem preso numa mina.

Há barracas de comida, atrações improvisadas e até trilha sonora ao vivo — uma espécie de parque temático da dor.

Esse comportamento, à primeira vista absurdo, hoje se traduz nas redes sociais em forma de lives de tragédias, linchamentos virtuais, memes sobre desastres e um consumo constante de sofrimento transformado em conteúdo.

A crítica não é somente à imprensa sensacionalista, mas também à plateia que, ao consumir e compartilhar esse tipo de material, se torna cúmplice do espetáculo.

O público que ontem comprava jornais com manchetes chocantes, hoje compartilha vídeos de acidentes e alimenta algoritmos que recompensam o engajamento com o sofrimento alheio.

O filme de Wilder não somente antecipa essa lógica — ele a denuncia com ironia cruel.

Em tempos de hiperconectividade, a pergunta continua urgente: até que ponto a audiência é inocente?

O que significa ser espectador de uma tragédia?

E qual é o nosso papel — ou responsabilidade — diante da espetacularização da dor?

A Montanha dos Sete Abutres permanece, assim, como um espelho incômodo para o nosso tempo: a tragédia só vira espetáculo porque há quem assista — e compartilhe.

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