Crédito da foto principal: Divulgação.
Com foco em arte e saúde, Lucia Bianconi é professora de Bioquímica, psicanalista e especialista em mandalas terapêuticas, além de artista amadora.
Foi co-líder do Team America da Global Arts in Health Fellowship e curadora do TAMASHA Festival em 2024.
Também atuou como diretora associada da Global South Arts & Health Week em 2023 e 2024 e é a atual líder do Global South Arts & Health Brazil Festival 2025.
Além disso, a artista é Chair do Latin-American Committee da International Association for Creative Arts in Education and Therapy (IACAET) e faz parte do GT Saúde da UFRJ.
Como artista plástica, Lúcia Bianconi apresentará gratuitamente de 05 a 16 de julho, a exposição de obras Abissais, que apresenta uma série de mandalas abstratas, simbolizando o ciclo da vida.
A exposição com indicação livre para todas as idades será exposta na Galeria Dobra — Artnova (Rua Orestes, 28, Santo Cristo — 2º andar da Fábrica Bhering), e poderá ser visitada às quartas, quintas e sextas, das 12h30 às 17h, e aos sábados, das 10h às 18h.
Por agora, ela nos explica o que há por trás das obras dessa exposição, como inspirações e muito mais.
Victor Hugo Cavalcante: Primeiro, agradecemos por nos conceder essa entrevista e gostaríamos de perguntar. As mandalas que você apresenta em Abissais trazem uma forte conexão com as profundezas do mar. O que o universo marinho representa para você como inspiração artística?
Lucia Bianconi: O mar sempre me fascinou, especialmente as profundezas por serem territórios do mistério, do invisível.
Nesses lugares, onde a luz do sol não chega, mas os sons se intensificam, tudo se transforma.
O abissal oferece um cenário metafórico potente para mergulhos internos: é lá, no escuro e no silêncio, que brotam formas sutis, bioluminescentes, que revelam o que não pode ser dito em palavras.
A bioluminescência pode ser vista como uma metáfora para a luz interior que reside em cada ser, a capacidade de brilhar mesmo em meio à escuridão.
E é no silêncio de nossos mergulhos internos que o inconsciente traz a inspiração através da única linguagem que usa para se expressar: o símbolo.
É essa dimensão simbólica que me inspira a criar.
Victor Hugo Cavalcante: Você explora o movimento, a luz e o silêncio das águas profundas em suas mandalas. Como traduzir esses elementos em formas abstratas e cores impacta a experiência do público?
Tento provocar uma pausa sensorial no olhar do público, criando composições que os envolvam como se estivessem submersos.
As cores se destacam no papel branco com uma luz intensa, e no papel preto, contrasta com o escuro.
Traços ondulantes e até repetitivos convidam à contemplação, à sensação de estar flutuando em um espaço distante — como, no fundo do mar ou dentro de si.
Victor Hugo Cavalcante: A exposição apresenta mandalas sobre papel branco e preto, criando contrastes entre luz e escuridão. Como essa dualidade dialoga com o conceito do invisível que você aborda?

A escolha entre o branco e o preto como base das mandalas não é somente estética, ela é conceitual.
O fundo branco sugere a presença da luz como revelação, enquanto o preto evoca o oculto, o submerso que se abre com as cores intensas como bioluminescências.
Ambas as dimensões coexistem no invisível: às vezes, o que não se vê está somente em outro comprimento de luz — o que conseguimos enxergar, a qual é a luz visível, ocupa apenas uma pequena fração, cerca de 0,0035%, de todo o espectro eletromagnético.
A dualidade entre sombra e luz reforça a ideia de que aquilo que é essencial nem sempre é visível, mas pode ser sentido.
Victor Hugo Cavalcante: Mandalas são símbolos ancestrais de ciclos e unidade. De que forma você acredita que sua arte pode auxiliar o espectador a se reconectar com esses conceitos?
Na psicanálise, as mandalas são mais que símbolos ancestrais por representarem a totalidade do ser.
Acredito que, ao contemplar uma mandala, o espectador é convidado a se recentrar, a acompanhar o movimento circular com o olhar e, quem sabe, com o próprio ritmo interno.
Os ciclos, os padrões que retornam, as transformações estão presentes não apenas na natureza, mas em nós.
Minhas mandalas propõem esse reencontro com a harmonia do ciclo, mesmo com algumas se expandindo para fora do círculo, se conectando com o mundo exterior.
Victor Hugo Cavalcante: A repetição das formas e a dinâmica das cores das obras presentes na exposição Abissais parecem criar uma “bioluminescência imaginária”. Qual a importância desse aspecto sensorial e poético na sua criação?
Sua pergunta é bem interessante.
A bioluminescência pode ser vista como uma metáfora para a luz interior que reside em cada ser, a capacidade de brilhar mesmo em meio à escuridão.
A “bioluminescência imaginária” é exatamente o que busco com meus desenhos.
Ela nasce do desejo de iluminar o que está encoberto, de oferecer lampejos de beleza e mistério no escuro.
É uma metáfora da intuição, da criatividade, daquilo que pulsa mesmo em ausência de luz externa.
As cores vibrantes, os brilhos pontuais, a repetição hipnótica… tudo isso é um convite ao encantamento, ao sensível como caminho de conhecimento.
Victor Hugo Cavalcante: O evento é gratuito e aberto a todas as idades. Que mensagem você gostaria que públicos variados levassem ao visitar Abissais?
Gostaria que cada pessoa pudesse se permitir uma pausa, um mergulho breve e silencioso, mas, profundo.
Que saíssem tocadas, talvez não com respostas, mas com novas perguntas e indagações e com a curiosidade aguçada.
Abissais fala de beleza e de delicadeza, de atenção ao que vive no escuro e pulsa em silêncio.
Fala do mistério e da revelação através da luz.
Em tempos tão ruidosos e acelerados, desejo que a exposição seja um respiro — um verdadeiro instante de reconexão com o mistério que todos nós somos.
Continue navegando pelo Jornal Folk e descubra conteúdos que inspiram, informam e conectam diferentes realidades.