De 2 a 6 de setembro acontece o Ojuinan — Laboratório de Preparação de Atuantes, com a diretora teatral baiana Onisajé, no Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes,em São Paulo.
O laboratório é gratuito e integra as ações do projeto Território Semear — Nutrindo Raízes para Cocriar da Cia Quatro Ventos, contemplado pela 42ª edição do Programa de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo.
As inscrições para participar do laboratório foram realizadas até o último sábado, dia 31 de agosto.
Ojuinan vem do yorubá, trata-se da junção de duas palavras Oju = olho e inan = fogo.
Numa tradução livre quer dizer olho de fogo.
O objetivo é desenvolver uma expressão cênica que dialogue com elementos como irradiação e transmutação energética, materialização da presença, encanto e comunicação.
O Ojuinan — Laboratório de Preparação de Atuantes é fruto da pesquisa cênica Ativação do Movimento Ancestral, um laboratório de preparação e formação que parte das memórias cotidianas e míticas dos atuantes para provocar os corpos a ativarem suas expressões cênicas e atuarem a partir de plataformas teatrais negras, num processo de descolonização mental, corporal, espiritual, poética e estética na qual é acessada e ativada a ancestralidade por meio do diálogo com os elementos do candomblé.
Foi criado por Onisajé em 2009 para o processo de escrita, preparação e encenação do espetáculo Siré Obá — A festa do rei, primeiro espetáculo desenvolvido pela poética do Teatro Preto de Candomblé.
Nesta oportunidade a encenadora criou, adaptou e desenvolveu exercícios corpo-vocais de atuação e encenação resultantes do diálogo entre candomblé e teatro.
Esses exercícios visam trabalhar o corpo e a voz numa busca sinestésica entre ritual, jogo cênico, criação de partituras corpo-vocais e improvisação ritualizada.
Tudo isso mediado pela conexão dos atuantes com a sua ancestralidade negra, presente na mitologia e energia dos Orixás.
O laboratório desenvolve-se por meio da realização de quatro rituais cênicos: Ritual do fogo, Ritual da terra, Ritual do ar e Ritual da água.
Através desses elementos fundamentais, serão acessadas a energia, mitologia e liturgia das divindades, de modo a potencializar a criação cênica.
Onisajé é diretora teatral, sediada na Bahia, curadora, graduada em Direção Teatral (UFBA), com mestrado e doutorado em Artes Cênicas pelo PPGAC — UFBA.
Ainda é dramaturga, preparadora-formadora de atuantes (atores), educadora e pesquisadora da cultura africana no Brasil com ênfase nas religiões de matriz africana.
Também é Yakekerê no Ilê Axé Oyá L’adê Inan (Alagoinhas).
Foi professora substituta da Escola de Teatro da UFBA nos cursos de Direção, Interpretação e Licenciatura.
Integra o Grupo de Pesquisa PÉ NA CENA-CNPq e publicou vários artigos sobre Teatro Negro em revistas especializadas e foi fundadora do Núcleo Afrobrasileiro de Teatro de Alagoinhas (NATA), e dirigiu o grupo durante vinte anos (1999 a 2019).
“A história com Onisajé começou há dois anos durante a busca pela construção de nosso primeiro grande espetáculo, procurávamos um olhar profundo para a ancestralidade, a periferia e as histórias africanas e assim desse grande encontro tecido pelos fios da vida nasce Awá — Tecendo Fios de Ouro escrito por Onisajé”, conta Lua Porto.
“Passamos esse tempo, ela de lá da Bahia e nós daqui em São Paulo, então, além de tudo, essa imersão é um grande encontro que buscamos compartilhar com quem participar do laboratório, afinal: ‘Tudo depende… Depende de você e também de nós. Dos que vieram antes e dos que virão após. Tudo depende… ’”, finaliza Lua.