A canção Gorjeios, responsável por abrir o segundo álbum de estúdio do produtor, compositor, arranjador e músico Zé Nigro, surgiu a partir da tentativa em decifrar o canto dos pássaros.
Com uma introdução costurada pelo arranjo de orquestra do maestro Arthur Verocai, junto aos sintetizadores e ao pulso forte do baixo e da bateria, o single é concebido com letra de Eveline Sin.
Como um alerta sobre a crise ambiental que vivemos, o single dialoga entre a orquestra, os coros e os sintetizadores, dando uma característica atemporal para a música que chegou às plataformas de streaming no dia 26 de julho, pelo selo estadunidense Nublu Records, ouça abaixo:
“Gorjeios foi escolhida pela sua grandeza tanto de música quanto de poesia. A canção tem uma estética que remete à música mineira da década de 70, tanto pela instrumentação e mixagem quanto na melodia e harmonia da composição, isso faz com que reverbere em outro tempo, mas que também aponta para o futuro com a costura da orquestra com os sintetizadores”, conta Nigro.
O novo single é uma nova versão da faixa lançada em 2021, no álbum Apocalip Se, que debutou na carreira musical autoral do produtor, duas vezes vencedor do Grammy Latino, com álbuns de Liniker (2022) e João Donato (2023).
A colaboração com Arthur Verocai deu forma para uma admiração de longa data.
“Quando entrei em contato com a obra de Verocai fiquei completamente hipnotizado. Seus arranjos são ouvidos nas músicas mais incríveis da Música Popular Brasileira, então, assim que o conheci pessoalmente, em uma sessão de gravação em 2021, eu transcendi com seu arranjo sendo tocado por uma orquestra impecável. A partir dali, começamos a trocar ideia sobre fazer arranjo para Gorjeios”, lembra Zé, que ainda complementa:
“Logo que mandei a música para ele e perguntei se havia gostado, ele comentou que parecia as músicas dele, o que me deixou muito honrado vindo de um maestro ícone da MPB. Então, quando escutei o arranjo pela primeira vez, já com a orquestra tocando, foi uma sensação única, quase caí da cadeira”.
Gorjeios foi composta em meados de 2018, após Nigro passar uma semana na Bahia em uma pousada no meio da floresta.
“Eu sempre acordava às 4h da manhã ao som de uma diversidade de cantos dos pássaros, e ficava pensando ‘o que dizem os pássaros? Do que eles estão falando, será sobre nós? Como eles viam de cima o que os humanos faziam’”.
O artista então compôs a música instrumental com o violão e enviou a poeta Eveline Sin sugerindo esse tema, e ela foi então responder anos depois, na época da gravação de Apocalip Se.
A música se formou em vários movimentos, reunindo também o pianista e parceiro Dustan Gallas, com um novo arranjo com mais de 20 musicistas, elevando a nova versão a outro patamar de interpretação.
Quanto à construção das melodias, Nigro reflete:
“Acho que a voz é como um instrumento, um instrumento harmônico fascinante”.
Além de assinar a produção de inúmeros artistas consagrados, como Russo Passapusso, Francisco el Hombre, Curumin e Anelis Assumpção, em álbuns que marcaram a história da música brasileira independente, Zé Nigro utiliza de sua faceta enquanto cantor como um longo experimento de autoconhecimento.
“Gravar o primeiro disco foi uma aventura pessoal que eu não sabia onde ia dar. Apocalip Se tem essa sensação de fazer uma investigação interna, na ideia de uma redescoberta de dentro pra fora. Já no novo disco, a imagem é de estar aberto, com as mãos absorvendo o externo, sentindo o poder da natureza que está ali refletida em sua grandeza”, pensa Zé Nigro.
Intitulado Silêncio, o novo álbum está previsto para setembro e chegará como uma continuidade natural do primeiro, a partir das músicas que haviam ficado de fora somado as que integraram os shows de Nigro com banda.
“As músicas foram tomando mais vida. Hoje me sinto mais seguro de fazer meu trabalho próprio, mais confiante. Então, quero propor esta escuta do silêncio, das sutilezas ocultas que na existência se revelam”, finaliza ele.