Apesar de as estatísticas fornecidas pela Organização Mundial de Saúde, que estima o uso de cigarros como causa de oito milhões de mortes anualmente, ainda se observa uma preocupante reinvenção desse hábito prejudicial à saúde para atrair a adicção dos jovens, alerta a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), em alusão ao Dia Mundial sem Tabaco comemorado ontem, 31 de maio.
As políticas públicas brasileiras são reconhecidas mundialmente pelas quedas da prevalência de tabagismo, com o país conseguindo diminuir esse hábito em 70% entre 1990 a 2017.
Apesar disso, os cigarros eletrônicos e o narguilé, por exemplo, têm se popularizado especialmente entre pessoas de 18 a 24 anos devido ao consumo em momentos de convívio social, pelo compartilhamento com amigos em festas, pela estética das imagens nas redes sociais e, principalmente, pelos atrativos sabores das substâncias inaladas.
Desde 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu a utilização de aditivos nesses produtos, mas os produtores das essências de narguilé ignoram a decisão.
O médico Erlon de Ávila Carvalho, cirurgião torácico e coordenador da comissão de Tórax da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), desmente o boato que o narguilé seria menos prejudicial aos pulmões do que os cigarros convencionais.
“Pela presença de essências que mascaram o sabor ruim, algumas pessoas podem ter a falsa impressão que não é tão prejudicial, mas isso é um erro imenso. O narguilé contém quase 5000 substâncias tóxicas e uma alta concentração de nicotina bem maior que de um cigarro normal”, explica.
Além disso, os usuários costumam compartilhar o bocal do narguilé com acúmulo de saliva, que pode transmitir certas doenças como herpes, tuberculose, hepatite C e, evidentemente, Covid-19.
Diversas pesquisas em várias partes do mundo já atestaram a correlação entre o uso do narguilé e o desenvolvimento de cânceres no pulmão, boca, esôfago e estômago, visto que a fumaça contém substâncias cancerígenas em quantidades gigantescas, como alcatrão, benzopireno e metais pesados.
“Uma exposição de cerca de 60 minutos pode equivaler a fumar 100 cigarros e também como no cigarro o fumante passivo de narguilé também será afetado”, informa Carvalho.
Um relatório publicado pelo Instituto Nacional de Câncer afirma que os usuários de narguilé têm 339% mais risco bruto de mortalidade por câncer de pulmão em relação aos que não utilizam.
O documento também mostra uma pesquisa que evidenciou associação positiva entre o uso de narguilé e o surgimento de doenças respiratórias, como bronquite, sibilância, além de doenças metabólicas e cardiovasculares.
Pesquisadores estimam que 7,3% da população brasileira consomem regularmente ou já teve contato com narguilé, em torno de nove milhões de pessoas.
Entre os jovens de 18 a 24 anos, a proporção salta para 17%.
Dessa forma, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica alerta para a importância de políticas públicas de acolhimento e orientação às pessoas que desejam cessar a prática; bem como medidas mais restritivas na comercialização de essências para narguilé com sabor.