Da mesma forma como filtramos a água, usamos protetor solar e óculos de sol para nos protegermos, temos que cuidar também da qualidade do ar que respiramos.
Essa foi a principal mensagem do Fórum Brasindoor Escolas, que aconteceu dia 27 de julho, em São Paulo, e abordou, em especial, a questão da qualidade do ar interno nas escolas.
O evento, realizado pela Brasindoor – Sociedade Brasileira de Meio Ambiente e Controle da Qualidade do Ar de Interiores, em parceria com o Plano Nacional de Qualidade do Ar Interno (PNQAI), reuniu diversos pesquisadores renomados, além de representantes do governo nas esferas municipais, estaduais e federais.
A abordagem é relevante e urgente.
Segundo dados da OMS, a poluição do ar causa mais de sete milhões de mortes prematuras em todo o mundo.
A estimativa é de que uma a cada dez mortes no mundo esteja associada à poluição do ar, mais do que as causadas por acidentes de trânsito.
No ambiente escolar, o assunto chama ainda mais atenção.
Segundo vários especialistas que se apresentaram no evento, a má qualidade do ar interfere diretamente no desempenho escolar e na capacidade de aprendizagem, sem contar o aparecimento de doenças, como dores de cabeça, bronquite e asma.
A afirmação foi ratificada pelo professor da FGV, Dr. Weeberb João Réquia Júnior, que apresentou estudos realizados nos Estados Unidos e no Canadá que associam a baixa qualidade do ar à demência, por meio do comprometimento do sistema cognitivo.
Contudo, o dado mais alarmante é o de que o ar poluído reduziu o desempenho de estudantes no ENEM em quase 2%.
“Fizemos um estudo em 25.390 escolas entre 2000 e 2020, e foi constatado que a alta concentração de dióxido de nitrogênio está associado a uma redução de até 76,48 pontos na nota da prova”, explicou Júnior.
A grande questão é: como resolver o problema mesmo diante de cidades cada vez mais poluídas?
Segundo Leonardo Cozac, presidente da Brasindoor e CEO da Conforlab, a solução é muito mais simples do que parece.
Dada a dificuldade em controlar os níveis de poluentes, a população precisa desenvolver o hábito de cuidar do ar interno.
Para o especialista, a utilização de filtros e purificadores é essencial para controlar a qualidade do ar dentro de nossas casas, escolas ou edifícios comerciais.
“Como passamos a maioria das nossas vidas em ambientes fechados, precisamos aprender a importância de medir e monitorar a qualidade do ar de forma contínua a fim de evitar tantas doenças e mortes prematuras. Precisamos encarar a qualidade do ar interno com a mesma seriedade com que tratamos a qualidade da água que bebemos”, destacou.
Além da utilização de mecanismos que ajudem na purificação, Paulo Jubilut, vice-presidente do PNQAI e CEO da Millicare, destacou a importância da correta higienização de tapetes, carpetes e demais superfícies têxteis, fundamentais para a eliminação de resíduos e microrganismos que promovem o aparecimento de bactérias, fungos e até mofo.
“As coberturas têxteis trazem conforto térmico, acústico, estético e segurança, mas precisam ser bem cuidadas para serem boas aliadas da qualidade do ar”, apontou.
O Fórum contou com a apresentação de diversos especialistas que abordaram, entre outros temas, um projeto de pesquisa de qualidade do ar interno em sala de aula na USP, a diferença entre ventilação natural e mecânica, e o case do Colégio Bandeirantes, de São Paulo, apresentado pelo arquiteto José Luiz Lemos, arquiteto da aflalo/gasperini arquitetos, que reformou seu prédio considerando a segurança da qualidade do ar para garantir o bom desempenho dos alunos.
Sua presença reforça a importância da participação dos arquitetos em debates como este, construindo ambientes mais seguros desde sua concepção.
Além de vários artigos científicos e teses de doutorado apresentados sobre como monitorar a qualidade do ar em salas de aulas, a relação com o desempenho dos alunos, as intervenções tecnológicas para mitigar a transmissão de patógenos, a Dra. Roberta Karla Barbosa de Sales falou sobre os efeitos da poluição na saúde mental.
“A alta concentração dióxido de nitrogênio prejudica o desenvolvimento cognitivo das crianças, em especial de 03 a 09 anos”, destacou.
Uma vez evidenciada a importância da qualidade do ar interno, outro ponto questionado é como monitorar e fiscalizar as irregularidades.
Para isso, o Dr. Ricardo Crepaldi, especialista em sustentabilidade, apresentou detalhes técnicos da ABNT NBR 16.000-40, que aponta diretrizes para o limite aceitável de partículas poluentes em cada ambiente.
Por fim, o biólogo André Castilho, autoridade sanitária na Coordenação de Vigilância Sanitária em Saúde do Município de São Paulo (COVISA), abordou a importância da fiscalização para garantir ambientes internos mais saudáveis.
“Nós cumprimos as normas, mas a obrigação de fiscalizar e denunciar ambientes inadequados é de todos. Esse é um problema social e todos somos responsáveis pela sua mitigação”, finalizou.