A escritora Leni Ziliotto, déléguer do Instituto Cultive Suíça-Brasil para Mato Grosso, reconhecida e premiada por suas prestigiadas obras, reuniu recentemente 25 mulheres notáveis, a convite da Networking Arte em parceria com o Instituit Cultive Suisse-Bresil (ICSB), sob a presidência de Valquíria Imperiano, para o lançamento da Coletânea Internacional Mulheres Notáveis em março de 2023, mês que comemoramos o Dia Internacional da Mulher, onde o protagonismo feminino é celebrado.
Natural de Guaporé, Rio Grande do Sul, Leni Zilioto reside atualmente em Lucas do Rio Verde, Mato Grosso, tendo recebido da Assembleia Legislativa do Estado, o título de cidadã mato-grossense, pelo relevante trabalho em prol da leitura, da literatura e da cultura.
Quer saber mais sobre a autora, sua carreira e seus projetos? Então confira mais informações na entrevista abaixo:
Victor Hugo Cavalcante: Primeiro é um prazer poder recebê-la em nosso site, e gostaria de começar perguntando: Como surgiu sua relação com a literatura enquanto leitora e escritora?
Leni Zilioto: Olá Victor Hugo e obrigada pelo convite.
Minha mãe foi professora durante 26 anos, então a nossa casa era um misto de crianças, de brinquedos e de livros.
De seus nove filhos, eu fui a única filha que foi aluna dela, e somente no 1º ano, a alfabetização, porque a escola que ela lecionava ficava bem longe da nossa residência, enquanto a quinhentos metros havia outra escola, com outro professor.
O método de ensino desse professor era fora dos padrões, acredito que até para os tempos atuais; ele promovia bastante vivências conectadas às teorias ensinadas a crianças das séries iniciais o ensino básico.
E uma das minhas aulas preferidas era às sextas-feiras, porque era o dia da contação de histórias, onde ele contava os contos clássicos.
Acredito que se a leitura fosse natural para mim, a motivação da contação de histórias e a casa com livros por todos os lados, reforçou minha paixão pelos livros, pela literatura, pela leitura.
Sempre fui leitora, desde criança. Já a escrita, eu tenho o registro dos meus primeiros poemas que datam dos meus doze anos.
Cadernos, agendas, pedaços de papel rasgado, guardanapos, tudo era base para eu escrever. Eu sempre escrevi muito, e sempre gostei de escrever.
Victor Hugo Cavalcante: Você criou a Biblioteca Pólen Leitura e Escrita, com mais de 300 livros, na Casa Cidadã, em Lucas do Rio Verde, nos conte mais deste projeto e de outros projetos sociais de leitura que você realizou/participou.
Após a pandemia, eu decidi parar de trabalhar no serviço formal e me dedicar somente ao que eu amo fazer, que é escrever e ler.
E essa condição me privilegiou com a gestão do meu tempo, além de fazer o que gosto.
Com mais tempo livre, optei por apoiar vários projetos sociais na cidade, entre eles, a Casa Cidadã, uma entidade mantida pelo poder público municipal que acolhe, atende, orienta e encaminha para emprego, moradores de rua.
Em concordância com os gestores da entidade, decidimos oferecer também leitura.
Então, eu fiz uma campanha para arrecadar livros e assim criamos a Biblioteca Pólen Leitura e Escrita, com apoio do Institut Cultive Suisse Brèsil, uma entidade cultural da qual eu faço parte e a represento no estado de Mato Grosso.
Com a campanha de arrecadação de livros, conseguimos um número bem expressivo, tanto para a Biblioteca Pólen Leitura e Escrita, quanto para mais três bibliotecas: ainda em Lucas do Rio Verde, a coleta e doação de 358 livros para a biblioteca do Projeto Social Flor do Cerrado, e a criação da Biblioteca Projeto Construtores do Futuro, com mais de 600 livros; em Sinop, com a coleta e doação de 350 livros, a criação da biblioteca no Centro de Atendimento ao Menor, que atende menores infratores.
Ou seja, quatro bibliotecas em espaços que acolhem pessoas oriundas de situações de vulnerabilidade.
Além das bibliotecas, sou rotariana, motivei a criação de Clubes do Livro em escolas públicas de Lucas do Rio Verde e, no projeto Construtores do Futuro, que atende crianças e adolescentes das escolas públicas no contraturno escolar, eu criei o Clube do Livro e desenvolvo projetos de educação ambiental, educação financeira e cinema.
Ou seja, o meu conhecimento e expertise são doados para vários projetos sociais.
E entre eles está também a organização de duas obras literárias que contam a história de duas entidades sociais, no Brasil, em Pernambuco, e outra em Santiago, no Chile.
Victor Hugo Cavalcante: Quais as principais dicas que você dá para quem deseja algum dia se tornar escritor?
Primeiramente, a pessoa que pretende ser escritor, precisa ser leitor.
Escritor sem ser leitor, até pode ser, mas será uma literatura rasa.
A consistência está em alimentar a produção literária, e esta, além da inspiração, é a leitura.
Depois, escrever, claro.
Escreva sem se preocupar com a estrutura do texto, livre, tipo chuva de ideias, para depois retomar o texto e organizar.
Já se a pessoa pretende produzir direta a sua literatura nas normas acadêmicas literárias, precisa estudar antes e dedicar um tempo maior e com mais foco, pois as estruturas são diversas e com regras específicas.
Precisa estudar os gêneros literários e as especificidades de cada gênero e cuidar para que sua escrita atenda essas normas. E, principalmente, ter coragem.
Ser escritor exige coragem, por uma série de fatores, entre eles, a não expectativa de retorno financeiro fácil.
Ele pode vir, após trilhado longo e árduo caminho.
Victor Hugo Cavalcante: Para você, enquanto escritora e membro de mais de 10 agremiações literárias, qual a importância de realizar ou participar de projetos sociais em prol à leitura?
O grande bônus da literatura é o escritor contribuir para a evolução da humanidade com suas narrativas, sejam elas de forma poética ou outro gênero literário.
Colocar a nossa literatura e conhecimento a serviço de projetos sociais é a certeza de estarmos contribuindo para um mundo melhor, porque a literatura muda as pessoas, e as pessoas mudam o mundo.
Já as participações em agremiações literárias, é o reconhecimento pelos resultados promovidos pela nossa escrita, e isso é bom, porque valida a nossa literatura.
Victor Hugo Cavalcante: Você já publicou 21 obras e teve mais de 80 participações em coletâneas (inter)nacionais e dos mais diferentes gêneros literários, como é para você poder viajar livremente entre estes gêneros e não se prender em apenas um tipo de literatura?
Eu sou poeta na essência, tanto que se eu não prestar atenção na hora de produzir outros gêneros, a poética toma conta da narrativa.
Eu sou gaúcha, ou seja, natural do Rio Grande do Sul, onde eu era e me considerava poeta, tendo publicado somente livros de poesias.
Há 10 anos residindo em Mato Grosso, um estado brasileiro com clima, cultura e outros elementos bem diferentes do sul, me inspirou a produção de uma literatura bem eclética, desde livros biográficos, literatura infantil, contos, crônicas.
Só não escrevi, ainda, um romance, mas não está fora dos planos.
Percebo que circulo bem por todos os gêneros, aumentando a responsabilidade e a dedicação pelo estudo, uma vez que a boa literatura, além da inspiração, precisa de formação.
Estudo, bastante leitura, dedicação e paixão, são alguns elementos que tornam minha literatura diversificada e ativa.
Victor Hugo Cavalcante: Para você enquanto escritora, o que nunca pode faltar num bom livro, independente do gênero?
Uma escrita boa, ou seja, aquela que faça o leitor entender o que está lendo.
Isso não significa dizer que não se possa usar expressões ou pensamentos complexos, que exijam do leitor maior atenção e até um estudo sobre o tema, mas sim desenvolver a narrativa com clareza da ideia que se quer comunicar.
Victor Hugo Cavalcante: Como surgiu a ideia e a oportunidade de organizar a Coletânea Internacional Mulheres Notáveis que contou com a participação de 25 coautoras?
A Coletânea Internacional Mulheres Notáveis surgiu do compromisso que eu tenho enquanto Delegué do Institut Cultive Suisse Brésil para o estado de Mato Grosso.
Cada núcleo precisa desenvolver ao menos uma ação anula, e eu pensei em uma publicação com um propósito.
Foi então que surgiu a ideia da publicação da coletânea com o foco no 5º Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, que trata da equidade de gênero.
O tema dos textos produzidos é Mulheres Notáveis, em qualquer área de atuação: educação, cultura, política, medicina, ciência, enfim, qualquer área que a mulher tenha deixado sua marca na história.
O gênero é conto, crônica, poesia ou release da mulher notável estudada e apresentada.
É uma oportunidade oferecida para “autoras” com o sonho de publicar sua obra literária.
Victor Hugo Cavalcante: O que significa ser uma mulher notável para você?
Uma mulher notável é uma mulher digna de atenção pela coragem de conquistar espaços de direitos e negados às mulheres pela condição de ser mulher.
Uma mulher que vive sua vida de modo a inspirar não apenas mulheres, e sim todos, por ter um proposito de vida que envolve a si e aos outros, o coletivo.
Victor Hugo Cavalcante: Quais suas influências literárias (autores prediletos) e quais foram as inspirações para organizar a coletânea com outras 25 mulheres?
Eu considero a minha literatura bem autoral no sentido de não perceber nela a influência de outros escritores.
Já para a leitura, eu gosto bastante de circular entre as miudezas complexas de Agatha Christie quando envolve o leitor em seus enredos e personagens, e de Manoel de Barros quando descreve o cotidiano em seu Livro sobre Nada e outras obras cujo enredo e personagens são envolvidos em tramas para mostrar a complexidade do simples. Júlio Verne, Tolkien, Érico Veríssimo e Lya Luft também são leituras que eu me inspiro, ao mesmo tempo a minha leitura é bem eclética, assim como a escrita.
Gosto de ler de tudo e de todos, o que me faz aprender sobre boa escrita e escrita não tão boa assim.
Victor Hugo Cavalcante: Para você qual a importância de surgirem mais coletâneas como a da Mulheres Notáveis onde o protagonismo feminino é celebrado?
A publicação de obras dessa natureza visa dar oportunidade às mulheres, jovens e crianças do gênero feminino a se lançarem na literatura como forma de libertação, de cura.
O empoderamento da mulher e sua total participação, com base na igualdade em todos os campos sociais, são fundamentais para a realização do desenvolvimento e da paz.
A Coletânea Internacional Mulheres Notáveis é inspiração para outras iniciativas, porque consiste em uma produção literária de autoria feminina cujo objetivo é o de promover a paridade de gênero em todos os processos sociais humanos para a paz e a harmonia entre todas as pessoas.
A ênfase é dada ao universo feminino para frutificar o direito humano legítimo de ser feliz, um direito tolhido por muitas gerações, que demanda tempo para a cura dessa ferida.
Victor Hugo Cavalcante: O que podemos esperar desta nova edição da coletânea Mulheres Notáveis? E qual está sendo o feedback das pessoas que já a leram?
Para a edição 2023 esperamos aumentar o número de participantes e o lançamento será em um congresso do Institut Cultive que acontecerá em novembro, em Genebra, na Suíça.
Já sobre o feedback das pessoas que já a leram, está bem no início, porque a versão impressa está saindo do forno agora, há apenas um mês.
As coautoras, sendo em grande número meninas, é um misto de choro, sorrisos e lágrimas.
A emoção toma conta de toda a família da menina, ao se verem na condição de coautoria de uma obra dessa natureza.
Assim como, a importância de trazer à luz mulheres que fizeram e fazem pela humanidade, que ficariam no esquecimento não fossem iniciativas como essa.
As mulheres notáveis citadas na obra serão referência e inspiração a meninas e mulheres que buscam seu espaço de direito.
Victor Hugo Cavalcante: Você já tem em mente ou rascunhado em algum lugar alguma ideia para um novo livro ou coletânea?
Sim. Inclusive já tem edital abeto em paralelo ao edital 2023 de Mulheres Notáveis.
É a Coletânea A vida é agora, para pessoas 60+, uma geração que viveu seus anos dourados e continuam na ativa, buscando melhor qualidade de vida e não deixando o conceito de “velho” tomar conta da sua energia vital.
Deixo o meu contato para que mais pessoas estejam nessas coletâneas, Mulheres Notáveis e A vida é agora.